• Edição 064
  • 30 de novembro de 2006

Ciência e Vida

AIDS, Mulheres e Bebês

Priscila Biancovilli

No dia 1o. de dezembro é celebrado o Dia Mundial da Luta Contra a AIDS, uma data que busca reavivar nos cidadãos a solidariedade e tolerância com pessoas portadoras do  HIV. No Brasil, a campanha pelo Dia é protagonizada por cidadãos comuns que convivem com o vírus, sob o slogan “A vida é mais forte que a aids”.

Cerca de 620 mil pessoas são portadoras do vírus em nosso país, de acordo com o relatório publicado no último dia 21 de novembro pela Organização das Nações Unidas (ONU). Este valor corresponde a um terço do total na América Latina. Os números da AIDS no Brasil apontam também para o aumento da taxa de incidência nas mulheres acima de 30 anos. Em 1996, 9,3 em cada grupo de 100 mil estavam infectadas pelo vírus. Já em 2005, a taxa saltou para 14,2.

O Boletim Epidemiológico 2006, lançado pelo Ministério da Saúde junto com o relatório da ONU, mostra que ocorreu uma expressiva redução no número de transmissões verticais, em que a mulher grávida transmite o vírus para seu bebê durante a gestação, parto ou amamentação. Entre 1996 e 2005, essa redução foi de 51,5%. Na opinião de Paulo Feijó Barroso, Coordenador Médico da Unidade de Avaliação de Vacinas do Projeto Praça Onze e professor Adjunto de Doenças Infecciosas e Parasitárias da Faculdade de Medicina da UFRJ, “Isso é algo muito bom, mas também é muito pouco. Nos países desenvolvidos, em que existe uma assistência adequada à mulher grávida infectada por HIV, as taxas de transmissão são em torno de 1%. Ninguém admite mais falar em percentuais de 5% ou 10%”, afirma o professor.

Os números baixos na transmissão vertical são uma realidade não apenas em países com uma boa infra-estrutura de saúde. Algumas cidades do Brasil, como o próprio Rio de Janeiro, desenvolvem projetos de prevenção para que este percentual diminua. A Secretaria Municipal de Saúde realiza o teste anti-HIV em todas as mulheres que se apresentam para o acompanhamento pré-natal nas unidades de saúde do município. A UFRJ, junto com outras universidades, desenvolve o Programa de Assistência Integral à Gestante HIV Positiva, envolvendo profissionais do Hospital Universitário e do Instituto de Puericultura e Pediatria Martagão Gesteira. O projeto oferece assistência através de obstetras, infectologistas, pediatras, psicólogos, assistentes sociais e enfermeiras, para conscientizar a gestante HIV positiva e promover o atendimento correto. O programa é realizado de forma integrada com o Hospital Pedro Ernesto (UERJ), Hospital Antônio Pedro (UFF) e o Hospital Raphael de Paula Sousa (MS).

O professor Paulo explica que “A forma de abordagem das gestantes na UFRJ inclui a tentativa de fazer o diagnóstico precoce, a oferta precoce do tratamento anti-retroviral, suporte no momento do parto (a gestante precisa tomar o remédio AZT venoso) e suporte ao bebê que nasce. Ele deve tomar o remédio por seis semanas e não pode ingerir o leite materno”. Através de doações e projetos de pesquisa, a equipe do programa conseguiu oferecer um suporte à gestante e ao bebê que diminui de forma significativa a chance de transmissão vertical.

Antes de o programa surgir, em 1994, a taxa de transmissão girava em torno de 40%. De acordo com o infectologista, a partir do desenvolvimento do programa, em 1995, a taxa decresceu para 4,3%. Hoje já atinge índices menores que 1%. “Aqui na UFRJ, os partos são feitos na Maternidade Escola. Lá, o grupo de profissionais vai garantir que a mãe receba o AZT, e vai até mesmo considerar a possibilidade de cirurgia cesariana, que diminui um pouco os riscos de transmissão.”

Para ele, o teste de HIV deve ser oferecido de forma muito mais ampla a toda população que procura assistência de saúde. “Se a pessoa pratica relações sexuais desprotegidas e chega ao ambulatório com febre, é conveniente oferecer a testagem anti-HIV”, recomenda o professor. “Durante algum tempo, só oferecíamos o teste para pessoas que praticavam atividades de risco ou eram doentes. Não havia muitos benefícios ao portador diagnosticado do vírus. Hoje, pelo contrário, são inúmeros os tratamentos que reduzem a quantidade de HIV no sangue e melhoram a qualidade de vida da pessoa com Aids”.