• Edição 063
  • 23 de novembro de 2006

Ciência e Vida

Vacina de mucosa contra leishmaniose: inovação na UFRJ

Priscila Biancovilli

Inúmeras pesquisas são desenvolvidas diariamente nos laboratórios da UFRJ. A busca pelo financiamento adequado, que propicie o bom andamento dos trabalhos, nem sempre é fácil. O professor Eduardo Fonseca Pinto, do Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho (IBCCF), tem agora a chance de receber uma boa soma de dinheiro para investir em sua pesquisa. Caso seja o vencedor do Prêmio Santander Banespa de Ciência e Inovação, do qual é finalista, conseguirá uma verba de 50 mil reais. O projeto de Eduardo busca potencializar a eficácia da vacina de mucosa contra leishmaniose. Ele foi desenvolvido sob a coordenação de Bartira Rossi Bergman, professora adjunta do IBCCF e chefe do Laboratório de Imunofarmacologia.

Esta vacina foi trabalhada para funcionar, principalmente, por via nasal. Ela é composta pelo DNA da leishmania, protozoário causador da doença. “Para isso trabalhamos com algo inovador, que é a quitosana, um polissacarídeo natural derivado das carapaças de animais como crustáceos e lagostas”, esclarece o professor.

A leishmaniose é uma doença transmitida para os seres humanos através de insetos e pode ser cutânea ou visceral. A cutânea causa úlceras no rosto, braços e pernas. Já a visceral é bem mais perigosa: provoca febre, perda de peso e crescimento anormal do baço e do fígado. Se não tratada, pode levar à morte.

Apesar de a doença ter tratamento, muitos pacientes reclamam de seus efeitos colaterais. Uma estratégia importante, neste caso, é a busca de vacinas. “O que o projeto tem de diferente é a busca de vacinas não-injetáveis, utilizando via de mucosa, oral e nasal, pelas facilidades e menor custo. O ineditismo consiste exatamente em se usar a via da mucosa para a prevenção da leishmaniose.”, atesta o professor.

A primeira vacina desenvolvida no laboratório era composta pelas proteínas da leishmania. Depois, foram criadas vacinas de DNA, ministradas por via nasal. Finalmente, com a utilização da quitosana, o efeito destas vacinas pôde ser maximizado. “A quitosana é biocompatível – não causa reações adversas em organismos – e é mucoadesiva, ou seja, adere às mucosas. A mucosa nasal tem várias enzimas que degradam o DNA. A idéia desta formulação é fazer com que o DNA permaneça mais tempo na mucosa, para estimular a resposta imunológica e o organismo conseguir mandar a resposta contra a leishmania”, explica Eduardo.

Outro ponto a ser destacado é o forte impacto ambiental do projeto. As carcaças que antes seriam despejadas em aterros sanitários, por ganharem uma utilidade prática, deixam de poluir o solo.

Segundo o professor, a patente da vacina foi publicada em outubro deste ano. O processo para sua comercialização, no entanto, levará ainda cerca de quinze ou vinte anos. Isto porque ainda são necessários estudos pré-clínicos (em animais) e clínicos (com voluntários), que são demorados.