• Edição 062
  • 16 de novembro de 2006

Saúde e Prevenção

Triturar comprimidos pode causar problemas na saúde

Isabella Bonisolo

 A dificuldade dos idosos e crianças em deglutir comprimidos, às vezes os leva a uma atitude que pode se tornar muito perigosa para a saúde: amassar comprimidos. A tentativa da ingestão dessa forma "facilitada" pode prejudicar as propriedades do medicamento, levar a uma superdosagem e, em alguns casos, provocar até graves problemas.

Na falta do medicamento líquido, é comum que idosos e mães de crianças triturem o comprimido para que seja ingerido de qualquer maneira. Há ainda casos de pessoas que misturam esse pó com alimentos, a fim de que não seja percebido o gosto desagradável.  A farmacêutica Rita de Cássia, professora que coordena o estágio supervisionado da Farmácia Universitária da UFRJ, explica que essas atitudes são completamente contra-indicadas: "alguns medicamentos podem ser inativados pela presença de um alimento. Um alimento ácido, por exemplo, pode dificultar que determinado medicamento chegue ao sangue e possa exercer sua atividade".

Um outro problema gerado por essa perigosa mistura é a repulsa que crianças criam de um determinado alimento, justamente por ele ter o sabor alterado. Quando se deglute o comprimido inteiro, qualquer sabor desagradável de substâncias que o mesmo possa conter fica menos perceptível. Porém, "ao triturar o medicamento e misturá-lo, você passa o paladar ruim para o alimento. A criança acaba adquirindo horror pela comida e a mãe pode não conseguir reverter isso".

Entretanto, o mais perigoso é que essa trituração pode alterar a ação do medicamento no organismo.  Alguns deles apresentam-se com uma biodisponibilidade modificada, ou seja, um efeito prolongado, repetido ou retardado no organismo. Rita explica que o princípio ativo fica "preso" no comprimido de forma que se desprenda aos poucos para ser absorvido pelo organismo. Caso o remédio seja amassado, a estrutura tecnológica utilizada para o efeito em longo prazo é destruída, podendo causar superdosagens.

A melhor saída para a dificuldade em deglutir um comprimido é substituí-lo pela forma líquida. No entanto, isso nem sempre é possível. Os medicamentos sólidos são as formas de remédios mais vendidas. Isso se dá graças à praticidade na sua fabricação pela indústria farmacêutica, que consegue produzir em larga escala e, conseqüentemente, por um menor custo. Rita afirma que "os princípios ativos tendem a se conservar melhor nos medicamentos sólidos, pois não estão na presença de água. Quando se faz na forma líquida ou semi-sólida, a água - principal solvente usado na fabricação dos remédios -, em alguns casos, pode gerar a inativação da molécula que teria atividade no organismo".

Essa perda da propriedade de certos princípios ativos ou a má conservação de algumas substâncias, causados pela água, justificaria o porquê de alguns medicamentos não serem encontrados na forma líquida. Rita explica que para o medicamento industrializado ser viável, ele tem que ter um prazo de validade longo e por isso os fabricantes optam por não produzi-lo.

O paciente que precisa de um medicamento na forma líquida, mas que não é fabricado pela Indústria Farmacêutica, pode encontrar na farmácia com manipulação uma saída. Ao ser preparado segundo as peculiaridades do usuário, o remédio líquido, quando é possível, recebe um prazo de validade menor, por sua instabilidade. Rita de Cássia enfatiza que o papel do farmacêutico no momento da dispensação de medicamentos, e em particular, desse tipo de medicação manipulada é fundamental para orientar o paciente sobre a fragilidade e pouca durabilidade do que ele está levando para casa. "Alguns medicamentos conservam-se muito mal na forma líquida, até levando à completa inativação do mesmo, inviabilizando a preparação sob a forma de solução, suspensão farmacêutica ou xarope".