• Edição 061
  • 09 de novembro de 2006

Faces e Interfaces

O duplo “X” da questão

Pesquisa conclui sobre o desempenho da mulher na matemática

Por Taisa Gamboa, da AgN UFRJ/CT e Mariana Borgerth, da AgN UFRJ/Praia Vermelha

Se você acredita que não pode fazer alguma coisa, as chances de que realmente não irá conseguir desempenhar a tarefa são grandes. Além disso, as predisposições deterministas e fatalistas tendem a piorar a situação. Será? Um estudo britânico revelou que é preciso ter cautela ao comunicar e interpretar questões genéticas. Os esteriótipos causam um impacto psicológico capaz de alterar o desempenho de um indivíduo em uma dada situação. Agora, cientistas descobriram que as mulheres têm desempenho inferior ao dos homens quando o assunto é Matemática.  Isso acontece quando elas acreditam que são geneticamente desfavorecidas nessa área. 

Para verificar a veracidade dessa questão, o Olhar Vital convidou as professoras Nedir do Espírito Santo, coordenadora de Licenciatura em Matemática, do Instituto de Matemática (IM) do Centro de Ciências Matemáticas e da Natureza, e Nilma Figueiredo de Almeida, do Departamento de Psicometria do Instituto de Psicologia, do Centro de Filosofia e Ciências Humanas, da UFRJ

 

Nedir do Espírito Santo

Professora do Instituto de Matemática

“Diante desse problema, duas grandes questões são colocadas. Em primeiro lugar, destaca-se o péssimo nível dos professores que lecionam a disciplina nas escolas brasileiras. A Matemática é uma coisa tão natural quanto a fala. Mas, ao invés de estimularem os alunos a desenvolverem esse conhecimento com naturalidade, os docentes desmotivam os jovens com críticas e teorias viciosas. Ao invés de entender o objetivo e a aplicação prática do que aprende em aula, o estudante apenas decora uma regra sem função em seu cotidiano.

Mesmo com esses empecilhos, as meninas tornam-se excelentes alunas de Matemática, não raro, com desempenho superior ao dos meninos. Entretanto, a disciplina em questão é estigmatizada como masculina e com pouca diversificação prática. Diante de tais prerrogativas, dificilmente as meninas são estimuladas a atuarem na Matemática.

Outra questão que se coloca é a estrutura familiar da sociedade mundial, especialmente a brasileira. Ao longo de sua vida, a mulher é modulada para assumir determinadas responsabilidades que lhe foram designadas ao longo da história. Com o amadurecimento e o crescimento profissional, as mulheres tendem a distribuir a atenção, antes praticamente única e exclusiva dos estudos, entre a família, o trabalho, a casa e a carreira acadêmica.

A pesquisa científica é uma tarefa que exige tempo e dedicação. Com as atribuições cotidianas de uma mulher inserida na sociedade atual, dificilmente ela conseguirá exercer plenamente o estudo da Matemática. Os homens, ao contrário, não assumem muitas funções ao longo da vida, atuando apenas como chefes de família e trabalhadores. Em geral, por trás de um grande cientista, existe sempre uma pessoa, normalmente mulher, que cuida de todas as outras coisas de sua vida. Com tempo disponível, fica fácil conhecer a Matemática.”

Nilma Figueiredo de Almeida

Professora do Instituto de Psicologia

"Historicamente o feminino é relegado ao segundo plano como algo menor, já que nós vivemos em uma sociedade patriarcal. Em função dessa realidade, o domínio do masculino acaba desqualificando e descaracterizando a mulher que passa a se ver com menos valor.

Com o advento do feminismo essa situação começou a mudar e a mulher passou a lutar pelo seu espaço. Mas o problema é que a sociedade estereotipa as mulheres como frágeis, dependentes e submissas e algumas delas acabam adotando isso como uma imagem e internalizando esses conceitos.

No caso da ciência há uma generalização: justificativa genética ou ambiental. Qualquer resultado deve ser analisado com muito cuidado. O problema é que às vezes a genética torna-se algo muito determinista. É claro que os fatores hereditários podem determinar, mas você é capaz de alterar algumas características ao refletir e adquirir consciência.  Se não fosse assim, você ignoraria a existência do livre arbítrio. A realidade não pode ser tão imutável.
 
Segundo a filosofia de Jung, a humanidade é regida por quatro funções: sentimento, pensamento, intuição e sensação e cada uma delas possui características especiais. As mulheres apresentam majoritariamente a função sentimento de forma consciente, o que demonstra uma facilidade para a observação e a reflexão. Já de forma inconsciente, elas possuem a função pensamento, que é responsável pela visão  lógica. Porém por não ser racional é algo mais ‘rudimentar’.

Isso significa que as mulheres costumam ter menos facilidade em assuntos lógicos. O que não quer dizer que não existam boas profissionais nesse campo. Muito pelo contrário, existem mulheres muito bem qualificadas dentro desse ambiente. A filosofia de Jung não possui um caráter determinista. Além disso, como já disse, as pessoas possuem a capacidade de desenvolverem habilidades.

Neste momento o que existe é uma grande tendência de se estudar e se discutir a questão do feminino. Isso porque a mulher mudou a sua posição na sociedade e agora está procurando se redescobrir.

Após a Segunda Guerra Mundial a mulher passou a adotar o principio masculino. Toda mulher tem conscientemente o principio feminino e inconscientemente o masculino. O que acontece hoje é que a mulher desenvolveu tanto o seu principio masculino que desgastou o feminino. Porém há um conflito: hoje ela usa os dois princípios e isso acaba por saturar a pessoa. A mulher hoje precisa trabalhar e quando chega em casa cuida do ambiente doméstico e da criação dos filhos, porque o homem se manteve apenas com o seu princípio em destaque."