• Edição 060
  • 1° de novembro de 2006

Saúde e Prevenção

Ela também merece cuidados especiais

Isabella Bonisolo

Como qualquer cavidade do corpo, a vagina tem uma quantidade de bactérias normais que mantém a sua acidez e a protege. Essa quantidade, se alterada, para menor ou para maior, pode modificar o meio vaginal, facilitando as infecções genitais.  A má higiene íntima  pode levar a essas alterações, ocasionando desde simples vaginites, que são facilmente tratáveis, até a infertilidade.

A má higiene íntima pode causar alterações na quantidade e na qualidade das bactérias vaginais, o que modifica a acidez e facilita as infecções. Isso pode gerar desde processos comuns como vaginites, até endometrites no útero e salpingites (inflamações) nas trompas, que podem levar à infertilidade — esclarece Décio Alves,médico do Serviço de Ginecologia do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (HUCFF), da UFRJ.

Para evitar todas essas complicações, a lavagem simples e comum com água e sabão, em geral, mantém a boa higiene. “Os sabonetes com perfume são prejudiciais caso a pessoa seja sensível ou alérgica a eles, levando a irritação local com coceira, mas sem corrimento vaginal”, explica o médico.

Outra novidade disponível para a higiene íntima que também tem sua utilização posta em xeque são os perfumes vaginais. Eles causam os mesmos problemas que os sabonetes perfumados e não devem ser utilizados com freqüência. “Esta regra também vale para o papel higiênico perfumado ou colorido, que pode prejudicar a pele de pessoas sensíveis pois pequenas partículas sempre ficam no local”, acrescenta Décio.

Durante a menstruação, as partes íntimas requerem mais cuidados. O sangue menstrual deve ser lavado para que não permaneça no local, o que altera a quantidade de bactérias. Caso isso não seja possível, a simples troca de absorventes já pode ajudar.

Um absorvente não deve permanecer úmido de sangue, urina ou transpiração por muito tempo. A troca, pelo menos a cada 4 horas, seria adequada para não aumentar a proliferação de bactérias locais - aconselha o ginecologista.

Para as mulheres que preferem absorventes internos, um alerta especial: a presença deles por mais de 4 horas, além de possibilitar as infecções citadas, pode gerar a Síndrome do Choque Tóxico. De acordo com o especialista, este quadro se apresenta devido ao fato de ocorrer a permanência de uma “esponja” de sangue cheia de bactérias em contato com a mucosa interna da vagina por muito tempo. “Elas produzem toxinas que, se absorvidas em grande quantidade na corrente sangüínea, induzem a queda da pressão arterial e um quadro de proliferação de bactérias no sangue, podendo levar ao choque, coma e até à morte”.

Já os protetores diários de calcinha, que prometem a sensação de secura e segurança, se permanecerem em contato com a pele por muito tempo, também podem causar irritações. Há a baixa oxigenação do local, o que não dá vazão aos líquidos vaginais e nem permite a transpiração de forma adequada. Ocorre uma espécie de “efeito estufa” genital, que gera corrimentos anormais e outras infecções.

- Os protetores foram feitos basicamente para o início e o fim da menstruação, quando o fluxo é muito pequeno.  O uso diário foi “inventado” pela indústria para explorar a necessidade de muitas mulheres de se sentirem “secas”, como se a umidade vaginal fosse uma coisa “suja”. Seguindo esta linha de raciocínio, o nariz e a boca estariam sempre “sujos”. Na realidade, qualquer cavidade natural do corpo está sempre úmida para não se fechar; as secreções são consideradas normais, exceto quando existem processos inflamatórios - explica Décio.

Outro mito criado pelas indústrias de produtos higiênicos são os sabonetes especiais para as genitais femininas. Mesmo aqueles que possuem acidez neutra podem alterar a flora vaginal se usado em excesso. Para doutor Décio, qualquer sabonete pode ser utilizado, basta respeitar as sensibilidades individuais.

O ginecologista ainda aconselha que toda mulher deveria dormir sem calcinha, quando não menstruada, ou utiliza-la o menor tempo possível para promover a maior ventilação do local. Recorda ainda que as calcinhas deveriam ser sempre de material natural, como o algodão, em detrimento dos fios sintéticos que não são porosos e podem causar irritações com o simples contato ou atrito com as dobras da pele.

Vale lembrar que esses cuidados devem ser reforçados no verão. Em dias mais quentes, há mais transpiração das partes íntimas, e consequentemente, mais secreções vaginais. “É importante dizer, ainda que o uso de roupas de banho sintéticas ou o tempo prolongado em piscinas com muito cloro, pode causar irritações locais”, finaliza Décio Alves.