• Edição 060
  • 1° de novembro de 2006

Por uma boa causa

Cálcio para quem gosta

Mariana Elia

O leite é o alimento mais rico dos mamíferos. Fundamental nos primeiros meses de vida, ele é também um dos grandes laços entre o bebê e a mãe. Nós, humanos, temos ainda o costume de ingerir, além do leite materno, durante o período de amamentação, também o leite de outros animais ao longo da vida. Vaca e cabra são as principais colaboradoras da nossa alimentação láctea, mas o de búfala e de jumenta também são consumidos. Já há um tempo ouvimos falar do leite de soja. Nessa primeira edição de novembro do Por uma boa causa, pretendemos abordar algumas diferenças entre os tipos dessa bebida, no que diz respeito a sua função biológica.

Segundo a nutricionista Anna Paola Pierucci, do Instituto de Nutrição Josué de Castro (INJC) da UFRJ, as diferenças são principalmente quanto ao teor de gordura e o tipo de proteína contidas no alimento. “Predominantemente sua proteína principal é a caseína, que se apresenta de variadas formas. Quando nossas enzimas a digerem, formam-se coágulos”, informa a professora. O leite de vaca produz coágulos mais grossos, que podem ocasionar, eventualmente, crises alérgicas, como irritação nas vias respiratórias. Nesses casos, a nutricionista recomenda a substituição por leite de cabra, que forma coágulos mais leves.

O leite não é grande fonte de glicídio. Suas maiores contribuições ao organismo são em proteína e gordura. Tais alimentos apresentam índices razoavelmente semelhantes de lactose (tipo de glicídio mais comum no leite), com exceção do produto humano, que traz níveis mais altos que os da maioria. “As proteínas encontradas são de alto valor biológico, pois possuem todos os aminoácidos essenciais, em quantidades balanceadas. É por isso que o leite é tão importante”, ressalta Anna Paola.

A soja não produz leite. O que a gente chama de leite é produzido a partir da soja moída, mas seu valor nutricional é mais baixo. Dessa forma, ele não substitui por completo o produto natural. A nutricionista lembra ainda a importância do cálcio, pois o alimento é a maior fonte biodisponível do mineral. A associação do leite de soja com um cereal, por exemplo, pode ser uma opção de substituição, uma vez que, juntos, trazem o mesmo valor biológico do leite.

As diferenças não ficam apenas na origem do produto. Existem ainda os leites em pó, fortalecidos, condensados, deslacteizados, entre outros mais raros. O primeiro é, na verdade, o mesmo alimento, retirada a água natural. Em processo industrial de secagem (spray drying), todos os 87% de líquidos existentes são separados dos sólidos, restando o leite em pó. Dessa forma, não há diferença nutricional alguma, apenas maior tempo de conservação e praticidade.

Os leites fortalecidos como a adição de ácidos graxos são, para Anna Paola, uma questão complicada. Ela explica que não há comprovação científica sobre sua eficácia, uma vez que o leite já possui nutrientes suficientes. Já ao condensado, é adicionado 20% de açúcar e retirada a mesma quantidade de água. Os deslactosados são direcionados aos alérgicos a lactose.

O leite é fundamental para nossa alimentação. A variedade de tipos, inclusive quanto ao índice de gordura, como os desnatados e semi-desnatados, existe tanto por uma questão mercadológica, quanto para casos específicos. Uma alergia ou restrições a gordura são causas possíveis para a recomendação de um leite específico. Caso contrário, a nutricionista defende a escolha do bom e velho leite integral.

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