• Edição 056
  • 05 de outubro de 2006

Saúde e Prevenção

A doença dos reis

Mariana Elia

A Gota é uma doença conhecida há muitos séculos. Se Hipócrates já fazia menção à doença no século V a.C, no século XVII ela era conhecida por Doença de Reis, pois muitos nobres manifestavam seus sintomas. A denominação vem do latim gutta, que determinaria o gotejar de humores (fluidos) pelas partes do corpo. A Gota é uma doença com características bem delimitadas e com tratamento de controle, uma vez que a cura ainda não foi descoberta.

A Gota se caracteriza por um acúmulo de ácido úrico nas articulações. O ácido úrico é o resquício da metabolização de proteínas pelo fígado. Ele é eliminado pela urina, mas parte dele permanece no sangue. A concentração normal de ácido úrico varia entre 3 e 8ml/100ml, segundo o Manual de Reumatologia da Universidade de São Paulo (USP), mas uma alta concentração no sangue não significa ter a doença.

A origem da Gota não é bem definida. Existem alguns indícios de que o fator genético tem grande influência ou, talvez, até determinação na sua aquisição, mas os especialistas não garantem como é essa relação. De qualquer forma, o que se sabe é que o ácido úrico pode cristalizar-se, formando os cristais de urato, e alojar-se em grandes articulações, como joelho, cotovelo e tornozelo.

A pós-graduanda em Reumatologia da Faculdade de Medicina da UFRJ, Cláudia Velasco, explica que esses cristais de urato causam uma artrite bastante característica. "A primeira manifestação é o podagra, que é simplesmente o inchaço do dedão do pé. Em seguida, outras regiões podem inchar, com sinais de calor, rubor e incapacidade funcional momentânea", dia a especialista. Apesar da clínica evidente, os médico buscam fazer, ainda, o diagnóstico laboratorial, que inclui o exame de sangue, de colesterol e, inclusive, a aspiração do líquido sinovial (presente na articulação).

Uma dieta rica em proteína é predisposição para a Gota, pois o ácido úrico é produzido principalmente com a quebra de proteínas ingeridas. Se há um excesso de carne e derivados, por exemplo, o fígado não dá conta desse metabolismo e o rim não filtra o sangue eficazmente. Por isso, Cláudia Velasco destaca como primordial a reeducação alimentar como uma das bases do tratamento, aliado a medicação para diminuir a concentração de ácido úrico no sangue. "Durante a crise, utilizam-se também antiinflamatórios para dissipar os cristais", acrescenta Cláudia.

Homens de meia idade são os mais acometidos pela Gota. Além disso, os hipertensos, obesos e aqueles que apresentam níveis de colesterol alto devem ficar atentos, pois a incidência é maior nesses casos. Apesar de não ser curável, a Gota pode ser controlada e as crises espaçadas, para isso, seguir o tratamento é fundamental. Cláudia Velasco alerta que se não tratada a doença pode levar a deformação e incapacitação funcional permanente, por conta das inflamações persistentes.

A Gota, nesse caso, pode se tornar crônica e evoluir para a Gota tofácia. Essa é caracterizada pela formação de tofos, uma espécie de caroços nas articulações, que podem romper a pele e expelir um líquido branco e leitoso. O tratamento correto, evitando excessos alimentares, entretanto, previne a cronicidade da doença.

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