• Edição 054
  • 21 de setembro de 2006

Saúde e Prevenção

O mal dos olhos

Mariana Elia

Banhos de piscina, verão e praias lotadas. Momento propício para disseminação de um dos males mais comuns dos olhos, a conjuntivite. Mesmo longe dessa época do ano, nosso país está sempre propenso a novas ondas de calor. E apesar de o diagnóstico ser simples e o tratamento rápido, a doença traz grande incômodo e sua facilidade de contágio obriga o doente a se afastar do convívio social durante a fase aguda. Existem cinco tipos, que são distinguíveis por exame laboratorial e clínico. Para evitá-la algumas medidas podem ser tomadas, mesmo que não garantam imunidade.

A conjuntivite é a inflamação da conjuntiva, uma membrana transparente que recobre o olho. Segundo o oftalmologista Luciano Gonçalves, coordenador do Projeto Luz da UFRJ, a conjuntiva tem o objetivo de proteger o globo ocular, reter e espalhar a lágrima de forma uniforme sobre a córnea. Dessa forma, quando ocorre a inflamação, os vasos sangüíneos se alargam e o olho fica com uma aparência avermelhada. “Por ser uma região pouco inervada, a conjuntivite caracteriza-se como uma patologia indolor”, explica Luciano Gonçalves.

As conjuntivites podem ser de ordem virótica, bacteriana, alérgica, fúngica e traumática. “Nas viróticas, a secreção é mais aquosa e provoca edema palpebral. Quase sempre verifica-se gânglio pré auricular. Nas bacterianas, entretanto, predomina secreção abundante (é comum acordar com o olho pregado, por exemplo), mas ambas são bastante contagiosas. As alérgicas, por outro lado, apresentam prurido intenso”, detalha o oftalmologista. As conjuntivites fúngicas e traumáticas são menos comuns e apresentam a forte vermelhidão como principal sintoma.

Gonorréia e clamídia são duas doenças sexualmente transmissíveis, que além de interferirem diretamente no trato genital da mulher, podem trazer complicações se ela manifestar sintomas no momento do parto normal. A oftalmia gonocócica tem complicações severas ao bebê e, por isso, é comum médicos aplicarem, logo após o nascimento, colírios com nitrato de prata para matar possíveis bactérias (gonococos). A clamídia, por sua vez, pode desencadear uma conjuntivite mais branda e uma medicação simples costuma ser o suficiente para não deixar seqüelas mais graves.

A fase aguda da inflamação dura pelo menos cinco dias e é fundamental o paciente, além de afastar-se do trabalho ou escola, utilizar individualmente toalhas de rosto e lençóis. “Medidas de higiene são importantes para evitar a disseminação do agente infeccioso. Manter as mãos lavadas e passar álcool nas maçanetas são algumas medidas eficazes”, diz o professor. A dilatação dos vasos causa a sensação de “areia ou corpo estranho” e, para isso, o uso de compressas geladas é indicado, porque aliviam esse incômodo.

— O estudo laboratorial das secreções e as características clínicas são importantes no diagnóstico, e o tratamento dependerá da etiologia. Os antibióticos são indicados para as conjuntivites bacterianas, os antifúngicos, para as causadas por fungos, mas as conjuntivites alérgicas necessitam parecer e orientação de alergista. Normalmente são indicados os anti-histamínicos, anti-inflamatórios não hormonais, corticóides, os estabilizadores da membrana de mastócitos e imunomoduladores. Não há tratamento para as conjuntivites viróticas — explica Luciano Gonçalves.

É preciso, no entanto, ter atenção aos medicamentos com corticóides. Apesar de serem benéficos aos pacientes com conjuntivites alérgicas, que sofrem mais em regiões com clima seco e quente, o uso prolongado pode provocar o aumento da pressão ocular. Além disso, o corticóide intensifica a conjuntivite virótica, podendo causar danos a córnea.

— Os pacientes devem evitar a automedicação e não aceitar proposta de leigos sobre aplicação de chás caseiros ou compra de colírios. Somente o oftalmologista deve receitar o tratamento, após o diagnóstico correto. Por último, o usuário de lentes de contato deve retirar imediatamente as lentes enquanto permanecer com conjuntivite, pois está contra indicado obstruir o olho com conjuntivite — esclarece o professor Luciano Gonçalves.