• Edição 054
  • 21 de setembro de 2006

Argumento

Interrupção da vida

Taisa Gamboa

A interrupção da gravidez, conhecida como aborto, é sempre um fato incômodo e triste que, infelizmente, acontece na vida de várias mulheres. O método pode ser indicado em algumas situações de má-formação genética, ou doença grave que impeçam a sobrevida do feto forado útero, ou implique em risco de vida para a mãe. Há, entretanto, uma forma de aborto espontâneo, que faz com que muitas mulheres percam os filhos antes mesmo de saberem da gravidez.

Sem o advento da ultrassonografia muitos desses casos precoces passavam despercebidos, sem o diagnóstico preciso. Hoje, sabe-se que cerca de 15% de todas as gestações terminam espontaneamente, entre as quatro e vinte primeiras semanas. Essa interrupção é caracterizada pelo sangramento vaginal e cólica; só em casos graves a hemorragia é intensa e pode haver infecção.

De acordo com as médicas Rita Bornia, diretora da Maternidade Escola (ME/UFRJ), e Penélope Saldanha, chefe da Divisão Médico-Assistencial da unidade, dentre as inúmeras causas para o aborto espontâneo, as principais são as desordens anatômicas, mecanismos imunológicos, doenças endócrinas, infecções e as anormalidades cromossômicas, que costumam causar abortamentos precoces ainda no primeiro trimestre da gravidez. Doenças auto-imunes maternas e outros mecanismos imunológicos podem aumentar as taxas de abortamento. 

Além disso, alguns distúrbios da coagulação são associados não só aos abortos espontâneos, como a infartos placentários e partos prematuros. Um exemplo é a Síndrome do Anticorpo Antifosfolipídeo, doença auto-imune que se manifesta por tromboses arteriais ou venosas e perdas fetais recorrentes. Segundo as médicas da ME, quando ocorrem três ou mais abortos consecutivos, o episódio pode ser caracterizado como recorrente (repetido). Mas existem os partos prematuros habituais, também chamados de abortos tardios. Caracterizados pela ocorrência de três ou mais interrupções consecutivas; acontece em função da incompetência istmocervical, ou seja, quando o colo do útero não consegue sustentar a gravidez. Embora possa ocorrer sem nenhum precedente, são mais comuns em mulheres que já tiveram outras gestações e história prévia de traumatismos, como curetagens repetidas, e cirurgias.

- A tentativa de nova gravidez e a necessidade de cuidados especiais para a mulher dependem da causa e complicações associadas ao abortamento. Sua forma habitual requer a avaliação do cariótipo do casal, dosagens hormonais, investigação de doenças auto-imunes e alterações uterinas são importantes. A paciente deve receber as orientações sobre tratamento e medidas preventivas de acordo com os resultados dos exames realizados. – destacaram Rita Bornia e Penélope Saldanha.

As médicas comentam ainda que, de acordo com elas, quando o abortamento é incompleto, parte do material gestacional permanece dentro do útero e pode ser necessária a curetagem ou aspiração a vácuo para a retirada do feto. Nos casos com idade gestacional mais avançada, a administração de medicamentos promove o esvaziamento uterino. Quando o abortamento é completo, não há necessidade de intervenção cirúrgica. Abortos ocasionais geralmente não se repetem e não necessitam de nenhuma medida específica de prevenção. Mesmo assim, é fundamental evitar o tabaco, o álcool e as drogas.