• Edição 052
  • 06 de setembro de 2006

Saúde e Prevenção

Tratar das feridas é a solução

Mariana Elia

A amputação é considerada o último recurso no tratamento de feridas e perdas musculares graves. A cirurgia de remoção de uma parte do corpo, geralmente membros inferiores e extremidades, decorre em grandes traumas para o paciente, que se sente mutilado com a perda. Muitos especialistas, entretanto, frisam que a questão é restauradora e, portanto, deve ser seguida por um processo de reabilitação capaz de estimular e conscientizar as capacidades residuais do indivíduo.

Uma das principais causas que levam a amputação é a formação de feridas em portadores de diabetes. Os acidentes de trabalho ou de automóveis e tumores ósseos malignos são também causas comuns de amputação, mas esses casos costumam ser imprevisíveis e com poucas chances de tratamento. O chamado pé diabético, entretanto, pode ser evitado e tratado antes da necessidade desse recurso.

Segundo a professora Valda Targine Pinto, do Departamento de Método em Enfermagem da Escola de Enfermagem Anna Nery (EEAN) e coordenadora do Programa de Extensão “Cuidando da ferida”, do Hospital Escola São Francisco de Assis (Hesfa), a amputação é necessária quando o diabético é mal orientado em relação ao cuidado com os pés. O diabetes, como também a hanseníase, causa neuropatias, que prejudicam a sensibilidade, e ocasionam a má circulação sangüínea. “Dessa forma, o uso de sapatos apertados, que tenham fivelas ou mesmo pedrinhas na sola pode abrir pequenas feridas, que poderão não ser sentidas pelo diabético”, explica a professora, acrescentando que “essas feridas vão aumentando podendo, de repente, iniciar uma infecção sem o paciente ao menos perceber”.

É fundamental, portanto, evitar o princípio dessas feridas. Utilizar calçados largos e confortáveis, para que os dedos não fiquem muito juntos é um bom caminho. Se por um lado as sandálias rasteiras facilitam tropeços e pequenas ranhuras, por outro, os saltos altos prejudicam a circulação sangüínea. Nada melhor, então, que um meio-termo. Tênis e sapatos fechados, com um pequeno salto, são ideais. Lavar os pés todos os dias com água morna e enxuga-los cuidadosamente, para evitar umidade entre os dedos e, com isso, a frieira também são medidas importantes.

A professora Valda Pinto destaca que muitos pacientes que chegam ao Hesfa já com feridas avançadas nem sabem que têm diabetes. “Além de muitos procurarem tratamentos quando a ferida está necrosando”, diz. O primeiro passo é a consulta de enfermagem, onde o paciente será examinado, iniciando o tratamento. O encaminhamento para o clínico será feito em seguida.

- Em caso de necrose, é feito o debridamento (retirada do tecido morto) para depois limparmos a área. A cobertura de hidrocolágeno, com um gel a base de algeriato de cálcio, ajuda nesse processo, que perdura até a necrose se desfazer – detalha a professora Valda.

A utilização de ácidos graxos essenciais (AGE) ajuda na granulação da região para que seja possível a recriação do epitélio. Apesar da cura depender da gravidade da ferida, a professora garante que é essencial tentar o tratamento, não importando a duração do mesmo. “Muitos dizem que não têm cura, que são tratamentos inúteis, mas aí, de repente, as feridas fecham”, diz. E lembra que é muito importante cobrir a região, para que as células possam se recompor. “Aqui nós utilizamos uma gaze não-aderente sobre a ferida. Na região secundária, já é possível colocar uma gaze comum. Mas quanto menos abrir, melhor. Recomendamos a troca, pelo menos, de dois em dois dias”.

Quando a amputação é necessária, a primeira reação do paciente é desesperar-se. “De todos os pacientes que eu atendi, todos choraram muito, inconformados, quando souberam dessa possibilidade. Apenas uma mulher estava realmente querendo a amputação”, comenta a professora. Mas, esse é recurso que também permite a qualidade de vida do indivíduo. Apesar de algumas complicações serem possíveis, como infecções e a dor fantasma, que afeta 95% dos pacientes amputados, uma equipe multidisciplinar (com médicos, fisioterapeutas, psicólogos, enfermeiros e fisiatras) é capaz de fornecer alívio e adaptação a uma nova vida. Sem um membro, mas com possibilidades garantidamente satisfatórias.