• Edição 049
  • 17 de agosto de 2006

Por uma boa causa

Fígado dilacerado

Mariana Elia

A hepatite do tipo B é uma doença sexualmente transmissível que afeta, segundo o Programa Nacional de Hepatites virais, cerca de 350 milhões de pessoas no mundo. Ainda que não seja essa a única forma de transmissão, após a descoberta do antígeno causador da inflamação, em meados dos anos 1970, os outros tipos de contágio puderam ser controlados. Dessa forma, os bancos de sangue e as clínicas de hemodiálise hoje não são os meios fundamentais de transmissão do vírus HBV, já que se exige o exame completo do sangue doado.

- A hepatite é um processo de inflamação e necrose aguda do fígado, que pode se tornar crônica. Existem diferentes causas, como virais, medicamentosas ou ligadas a doenças imunológicas. O controle nos bancos de sangue e as campanhas de vacinação permitiram uma diminuição considerável dos casos virais ao longo dos anos – explica a doutora Cláudia Maria Andrade Equi, dos Serviços de Gastroenterologia e Hepatologia do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (HUCFF).

Segundo a doutora, ainda se observam surtos de infecções, mas a mobilização das campanhas nacionais tem surtido efeito contra uma possível epidemia. Comparativamente com a hepatite C, que também é motivo de preocupação para os especialistas, a hepatite B tem uma concentração por mililitro (ml) do vírus muito maior, e por isso, o contágio do HBV por via sexual, sejam secreções ou o próprio sangue, é mais freqüente.

Os sintomas, que podem demorar anos para surgir, são a icterícia (amarelamento da vista e da pele), mal estar, falta de apetite e fatiga. Felizmente, a cronicidade é pouco comum e uma vez diagnosticada a doença, cerca de 80% dos casos obtêm cura total. “Hemorragias digestivas, derivadas da hipertensão-porta (aparecimento de varizes no esôfago que desencadeam sangramentos), insuficiência hepática, além do possível desenvolvimento de câncer de fígado são as conseqüências comuns de uma hepatite B não tratada”, diz a doutora Cláudia.

O tratamento, que dura geralmente seis meses, é feito a base de um medicamento único, tanto para a hepatite do tipo B quanto do C.  O interferon, associado à ribavirina, atua como um anti-viral e elimina o HBV do organismo. Há ainda o interferon peguilado, que gera uma resposta mais rápida e eficaz, mas este não é distribuído pelo governo. “Mesmo nos casos crônicos, existe possibilidade de cura. A resposta ao tratamento depende muito dos genótipos e, no caso da hepatite B, verificam-se respostas muito satisfatórias”, esclarece Cláudia, que associa também a essa característica gênica do vírus maior facilidade na produção da vacina, frente a complexidade do vírus da hepatite C.

O ideal, portanto, é fazer periodicamente exame de sangue, solicitando a verificação do HBV, utilizar preservativos durante a atividade sexual, independentemente do tempo de consolidação da relação, pois a aquisição pode ter ocorrido muitos anos antes, vacinar-se e iniciar o tratamento quando diagnosticada a doença. Por outro lado, a doutora explica que é muito difícil o paciente se reinfectar com o vírus, uma vez que o organismo consegue imunidade ao gerar anticorpos.