• Edição 048
  • 10 de agosto de 2006

Argumento

Pai na adolescência: a hora de assumir a responsabilidade

Mariana Elia

Dia dos pais comemorado, no próximo domingo, é recebido com prazer por muitos homens, mas nem todos conseguem assumir esse papel na sociedade. O caso ocorre principalmente na adolescência. Pego de surpresa e indignação o jovem pode exercer sua função paterna, mas, quando o incidente ocorre, a primeira reação de muitos é não querer o nascimento.  “Acredito que o que falta para os homens é sentir o bebê, para aceitar realmente que é uma vida gerada por ele”, diz o professor José Leonídio Pereira, da Maternidade Escola da UFRJ, que utiliza como recurso levar o pai para assistir o exame de ultra-sonografia.

O alto índice de gravidez na juventude demonstra uma certa banalização do sexo e dos aspectos que o cercam. Os meninos, de uma forma geral, se mostram mais avessos à idéia de serem pais do que as meninas, que aceitam a maternidade com mais segurança. Segundo o professor, nesses casos é muito comum á família assumir a paternidade, enquanto o jovem continua seguindo sua vida anterior. A principal diferença entre a mãe e o pai é que ela entra necessariamente no cotidiano do filho, desde a gestação até a amamentação e cuidado diário. O pai pode, na verdade, se eximir totalmente do compromisso.

- É preciso ter uma figura paterna para transmitir a lei, a rigidez, para que o filho não fique sem o referencial do superego -, explica o professor, que continua: “a paternidade é tanto a segurança do núcleo familiar, como a cumplicidade e a continuidade do relacionamento com a mulher, o que traz implicações diretas e indiretas ao filho”.

Para o professor, existe uma diferença entre a paternidade responsável e a reprodução procriadora. Esta última se dá quando o genitor não procura vínculos com a mãe ou com o filho, ele é apenas um procriador. É comum, por exemplo, o homem ter vários filhos, com diferentes mães e não assumir a função paterna verdadeiramente.

A paternidade responsável não tem idade. Segundo o professor José Leonídio, que é também coordenador do projeto Papo Cabeça, que tem como objetivo estimular a discussão sobre saúde reprodutiva na comunidade escolar, um garoto de 14 anos pode assumir a função paterna e dividir as responsabilidades com a parceira. A determinação não é fisiológica, mas de discernimento das conseqüências de suas ações. Dessa forma, a formação de um pai depende principalmente da educação advinda da escola e da família. Por outro lado, a experiência de vida e a estabilidade emocional também são importantes para o exercício pleno da paternidade.

Segundo o professor, além do amadurecimento ser mais precoce nas meninas, elas são desde cedo preparadas para a maternidade. Os homens permanecem mais distantes das conseqüências da atividade sexual, mais presos ao ato propriamente. A juventude sabe que o sexo existe, como se faz e como se previnem a gravidez e as doenças, mas não se conscientiza dessas possíveis implicações, retornando ao famoso “comigo isso não acontece”. Para José Leonídio, a grande quantidade de famílias matriarcais, nas quais os pais são absolutamente ausentes, auxilia na falta de discernimento dos meninos, pois não há o costume da conversa, da instrução entre mãe e filho.