• Edição 047
  • 03 de agosto de 2006

Saúde e Prevenção

Grande mudança de hábito para um coração pequeno

Isabella Bonisolo

A hipertensão arterial em crianças, na maioria das vezes, estava ligada a uma doença, usualmente de origem renal. Porém, o que se constata atualmente é que os casos nas crianças estão aumentando sensivelmente mas por um outro fator que antes era exclusividade de pessoas de idade avançada: a obesidade.

Maria do Carmo Cunha, médica chefe do Serviço de Cardiologia do Instituto de Puericultura e Pediatria Martagão Gesteira (IPPMG) e professora do Departamento de Pediatria da Faculdade de Medicina da UFRJ, explica que “no Brasil, como no mundo inteiro, está aumentando muito o índice de crianças obesas. E dentro desse grupo, existem crianças com uma grande sobrecarga, que chegam a hipertensão”. O porquê da obesidade tem as suas respostas refletidas nos maus hábitos que as crianças estão adquirindo, como a má alimentação, baseada em fast food, e o sedentarismo. As horas desprendidas em frente a um computador ou videogame tomaram o tempo que antes era das atividades que trabalhavam o corpo.

As conseqüências ainda são leves e não trazem graves problemas para o coração. “Hoje, a verdade é que esse tipo de hipertensão não é do cardiologista e sim do pediatra, do clínico da criança”, ressalta a professora. Porém, se não tratada, à medida que o corpo adulto vai tomando forma, a tendência é apenas piorar e chegar aos extremos que muitos conhecem: infarto, acidente vascular cerebral, déficits renais e pulmonares, entre outros. “Esses órgãos – coração, cérebro, rins – são acometidos quando se mantêm por um tempo prolongado a pressão alta. Isso não é um problema que os pediatras, mesmo aqueles que atendem adolescentes, vão enfrentar. Quem verá isso, será o clínico que encontrará problemas nos adultos cada vez mais jovens”, explica a médica.

A boa notícia é que hipertensão infantil por obesidade pode ser revertida totalmente, caso a criança siga uma dieta nutricional balanceada, com acompanhamento médico e pratique exercícios físicos regulares. “A hipertensão é secundária a obesidade. Se tirar a obesidade, tira a hipertensão, acabando todos os fatores de risco”, explica Maria do Carmo. É uma questão de mudança de hábitos para que no futuro, não haja maiores transtornos.

Como a doença em crianças não possui sintomas em curto prazo, a única maneira de detectá-la é através da verificação constante da pressão. Deve-se, a partir dos três anos de idade, checar a pressão sanguínea pelo menos uma vez ao ano. Outro detalhe importante é que essa aferição não pode ser feita em qualquer aparelho, que serve para atender tanto adultos quanto crianças. Já que os braços dos pequenos são bem menores, o resultado de um exame de criança em um equipamento não adequado a ela, com certeza apresentará erro. “Um erro comum é fazerem diagnóstico de hipertensão em criança e ela não está hipertensa, justamente por que usaram o aparelho errado”, alerta a professora. Se durante uma consulta for detectado a pressão alta, deve-se repetir mais vezes a aferição, em diferentes dias, para que se confirme o diagnóstico de hipertensão. “Tem que se fazer pelo menos três verificações, de preferência com a criança o menos estressada possível e nos quatro membros”, aconselha a médica.

A melhor coisa que pais podem fazer em relação à hipertensão infantil é evitar que ela se desenvolva, tendo consciência de que há alguns fatores de risco como o sedentarismo, dieta rica em sal, gordura animal e carboidratos. “Um dado interessante é que a criança não gosta de coisa salgada. A gente é que ensina ela a comer sal. Para que ensinar se daqui a alguns anos terá que dizer que não pode mais e que faz mal? É muito mais fácil criar um hábito na criança do que mudar um adulto”, conclui Maria do Carmo.

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