• Edição 047
  • 03 de agosto de 2006

Microscópio

Homem-máquina

Como a crescente neurotecnologia pode ajudar o homem a contornar alguns dos mais sérios problemas de saúde, ampliando a qualidade de vida da população mundial

Taisa Gamboa

Há algum tempo atrás, quem falasse sobre a implantação de chips no cérebro humano, seria chamado de louco. Mas o que parecia filme de ficção-científica foi pesquisado, ganhou credibilidade e é o mais novo ramo da Biotecnologia. Foi assim que a Neurotecnologia se desenvolveu e hoje é capaz de controlar a atividade do Sistema Nervoso Central (SNC). Isso permite a estimulação cerebral controlada e a recepção de informações com o objetivo de lidar com patologias, interagir com objetos externos e aumentar as suas capacidades naturais.

A importância do tema vem crescendo tanto nos últimos anos que, nesse mês, será realizado, no Rio de Janeiro, o I Congresso Internacional de Neurociências e Sociedade Contemporânea. Um dos temas abordados é a neuro-robotização dos seres humanos, termo utilizado para indicar a possível robotização dos homens através das neurotecnologias. De acordo com Roberto Lent, professor do Departamento de Anatomia do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da UFRJ, o desenvolvimento de dispositivos inteligentes externos e internos (implantáveis) permitirá conduzir, de certa forma, o comportamento humano.

Com o envelhecimento da população e a profusão das doenças urbanas, os problemas relacionados ao cérebro ou de fundo neurodegenerativo tendem a aumentar. É por isso que a neurotecnologia vem desenvolvendo soluções para doenças como Alzheimer, depressão, dor, desordens sensoriais, esquizofrenia, epilepsia e Parkinson. Em muitos casos, a idéia é atuar como uma terapia alternativa ao tratamento farmacológico tradicional e às cirurgias.

- Mas o que a princípio surge com objetivos terapêuticos, aplicáveis a traumatismos da medula espinhal, do cérebro, e a outras doenças neurológicas; logo pode passar a ter uma utilização destinada ao aprimoramento de pessoas normais. A questão gira em torno do crescimento da Neurotecnologia Cosmética. Foi assim com o Viagra, com o BOTOX® e com os implantes de silicone, todos inicialmente desenvolvidos com fins terapêuticos, hoje são apropriados pelos homens em busca de aprimoramento físico, - destaca Roberto Lent.

Embora o Brasil não desenvolva nenhuma pesquisa específica no campo da Neuro-robotização, alguns estudos neurotecnólogicos estão sendo desenvolvidos. A tendência atual, segundo o professor do ICB, é a de produção de alternativas para a saúde humana com o desenvolvimento associado da Ciência Básica e da Tecnologia. Os benefícios iniciais correspondem ao possível fornecimento de melhores condições de vida aos paraplégicos e tetraplégicos.

- Através do implante de nanochips em regiões do cérebro, que captam a atividade neural, enviando-a a computadores capazes de controlar os dispositivos mecânicos externos, os portadores de deficiência são capazes de controlar suas cadeiras de rodas, usarem computadores, e realizem tarefas domésticas utilizando seu próprio pensamento. – complementa Roberto Lent. 

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