• Edição 047
  • 03 de agosto de 2006

Por uma boa causa

Sífilis: um mal antigo

Mariana Elia

Iniciaremos nessa primeira edição de agosto uma série de matérias sobre as Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST). Ainda que a atividade sexual não seja a única forma de transmissão, é principalmente através dela que algumas doenças são adquiridas. Aids, HPV, sífilis, gonorréia e clamídia são apenas alguns dos mais de dez tipos de DST comuns entre homens e mulheres. Destacaremos cinco doenças, que são menos discutidas na mídia, mas que devem ser de conhecimento do público.

Carla Luzia França Araújo, coordenadora do Laboratório de Estudos e Política, Planejamento e Assistência em DST/Aids do Hospital Escola São Francisco de Assis, explica que existem doenças mais comuns em homens e outras mais freqüentes nas mulheres. “O condiloma (HPV), no entanto, se manifesta em ambos os sexos, mas vemos grande procura aos postos de saúde por homens, já que é uma doença que não é possível de se automedicar”, diz. Segundo ela, os homens, ao perceberem os sintomas, têm o costume de ir diretamente às farmácias, já que não há serviços específicos para eles.

Causa da morte de grandes nomes da literatura e da vida cultural dos últimos séculos, como o filósofo Friedrich Nietzsche (1844-1900), o escritor Heinrich Heine (1797-1856), o compositor Robert Schumann (1810-1856) e, como se suspeita, até do revolucionário Vladimir Lênin (1870-1924), a sífilis é uma doença infecciosa causada pela bactéria treponema pallidum. Segundo o Programa Nacional de DST e Aids do Ministério da Saúde, estima-se que mais de 843 mil brasileiros apresentaram sintomas no ano de 2003. A transmissão pode ser feita pelo ato sexual, pela contaminação sangüínea ou durante a gestação, para o bebê. A sífilis se divide em três fases e a caracterização delas é o que a destaca dentre outras DST.

As fases


A primeira fase, que tem início no ato da contaminação, é caracterizada pela formação de pequenas úlceras rosadas, chamadas de cancros duros, nas regiões oral e genital sem aparecimento de secreção e que podem estar ocultas nas mulheres (órgão sexual interno).  Carla Luzia, que também é professora da Escola de Enfermagem Anna Nery (EEAN), destaca sinais como manchas e vermelhidão no corpo do pacientes, principalmente pés e mãos. Após um período que varia de três a seis semanas, essas feridas curam-se naturalmente e é essa característica que faz da sífilis uma doença traiçoeira. “Como os sintomas desaparecem com o tempo, o indivíduo pode ser portador e transmissor da sífilis durante anos sem mesmo saber”, diz a professora.

Essa é a segunda fase, onde a bactéria transita pelo corpo, mas não demonstra muita atividade. Alguns casos, no entanto, mostram outros sinais como dores de garganta, perda do apetite e mal-estar, que são comumente confundidos como sintomas de outras doenças. O perigo, portanto, está na falta de tratamento, pois sem ter conhecimento o sujeito não apenas transmite a sífilis, como corre o risco de chegar a terceira fase, onde outros órgãos são afetados.

A bactéria é capaz de se multiplicar por todo o corpo e, ao chegar ao cérebro, pode acarretar em déficit neurológico, como demência e sintomas de meningite. A paralisia é outra possibilidade, tendo inclusive acometido, juntamente com a cegueira, o poeta Heinrich Heine. A sífilis pode também causar disfunções cardíacas e deterioração do controle dos esfíncteres.

Sífilis congênita


Uma outra forma de transmissão da doença é pela mãe durante a gravidez. Nesse caso, as lesões são intra-uterinas e a professora Carla Luzia destaca a importância dos exames pré-natal. “Até a 14ª semana de gestação a bactéria não passou para o bebê. Quanto mais cedo tratar a doença, menores as chances de contágio”, ou pelo menos, de trazer lesões estruturais. A professora explica que a sífilis congênita pode afetar a formação óssea, a dentição e trazer marcas no rosto, principalmente nariz.

Segundo Carla, o tratamento nos postos de saúde é bastante eficaz. A penicilina é utilizada em todos os casos, independentemente da fase ou transmissão e o diagnóstico é feito por exame de sangue, com solicitação de sorologia para Lues (VDRL). É importante salientar que uma vez afetado, as seqüelas são irreversíveis, o antibiótico interrompe o processo ao matar a bactéria, mas não recupera o órgão afetado. Durante o tratamento, pode-se pedir também o exame de SPA-ABS, que é mais específico, porém menos disponível ao público.