• Edição 046
  • 27 de julho de 2006

Saúde e Prevenção

Um sorriso bonito em qualquer idade

Periodontista da UFRJ revela porque as mulheres sofrem de perda dentária antes da menopausa

Taisa Gamboa

O ciclo de vida do ser humano é repleto de fases marcadas pelas transformações do corpo. O climatério, por exemplo, é um período em que os hormônios vão progressivamente deixando de ser produzidos pelo organismo. Na mulher, ocorre uma redução dos níveis de estrogênio e progesterona, caracterizando um período de transição entre a fase fértil e a não-fértil.

De acordo com Maria Cynésia Medeiros Torres, coordenadora da disciplina de Periodontia II e professora do Departamento de Clínica Odontológica da Faculdade de Odontologia da UFRJ, essa fase da vida provoca uma série de efeitos no organismo da mulher, inclusive no tecido ósseo, que apresenta um dos metabolismos mais ativos do corpo humano, demonstrando grande capacidade de se alterar durante a vida em resposta às mudanças metabólicas. Ao longo do tempo, o osso sofre reabsorção e formação fisiológicas regularmente, se auto-renovando.

O controle desse intenso metabolismo depende de uma série de diferentes vitaminas e hormônios, dentre eles os estrogênios, que aumentam da atividade osteoblástica (referente à formação do osso). “A redução do estrogênio durante o climatério, favorece a diminuição da atividade osteoblástica nos ossos, reduzindo a matriz óssea e a deposição de cálcio e fosfato. Todo esse processo pode enfraquecer acentuadamente os ossos, inclusive os dentes, e resultar em osteoporose. É por isso que as fraturas, e a perda dentária são recorrentes em quase grande parte das mulheres na pré-menopausa”, informa a professora.

Sem a normal renovação da camada óssea, os dentes ficam enfraquecidos e são alvos fáceis para as cáries e a doença periodontal, causada por placa bacteriana dental (microorganismos) que ao interagir com o hospedeiro pode levar à perda progressiva dos tecidos de suporte dentário. Este processo geralmente é lento e com o tempo o dente vai apresentando mobilidade até a sua perda.

Segundo Maria Cynésia, embora a osteoporose na mulher após a menopausa não seja a causa da doença periodontal, ela pode afetar a severidade da doença pré-existente. E existem fatores de risco conhecidos que podem contribuir para que a doença se estabeleça ou ocorra de forma mais severa, tais como o diabetes melitus e tabagismo, o fumo e a osteoporose.

O diagnóstico dessa doença depende de exame clínico odontológico periodontal acompanhado de exame radiográfico dentário. Além de exame médico periódico para detecção de outras condições sistêmicas que, associadas, podem acelerar e agravar a perda do dente. A Faculdade de Odontologia da UFRJ oferece, através do Departamento de Clínica Odontológica, especificamente nas disciplinas de Periodontia e Clínica Integrada, um serviço odontológico que realiza o tratamento periodontal.

— Embora seja um problema tipicamente feminino, os homens também podem ter os mesmo problemas. No período da andropausa, a redução de hormônios, no caso, a testosterona, também reduz a quantidade da matriz óssea e provoca deficiência de retenção de cálcio nos ossos. Entretanto, a diminuição hormonal no homem é bem mais lenta, fazendo com que o climatério masculino seja diferente do feminino, — destacou a professora.

O tratamento por reposição hormonal é um eficiente meio de prevenir a osteoporose e manter o conteúdo mineral no esqueleto. Alguns estudos mostram que a reposição diminui as perdas dentárias após a menopausa. Mas assim como qualquer outra doença bucal, a prevenção da perda dentária, em qualquer idade, tem início pelo controle de placa bacteriana, através de higienização bucal adequada e regular. Considerando o período do climatério, estes cuidados devem ser reforçados e o indivíduo deve ser mantido em manutenção preventiva periódica.

Maria Cynésia defende que a influência de fatores de risco associados, como diabetes melitus e tabagismo, deve ser minimizada ao máximo. O controle da osteoporose também parece ter um papel preventivo para perdas dentárias, entretanto, apesar da maior parte das pesquisas mostrar tal associação, ainda existe a necessidade de estudos metodologicamente melhores.

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