• Edição 044
  • 13 de julho de 2006

Saúde em Foco

Idosa que acumulou lixo teria transtorno psiquiátrico

Fabiana Parajara

A espanhola Violeta Martinez, de 78 anos, que acumulou toneladas de lixo em sua casa, no bairro do Itaim Bibi, área nobre de São Paulo, teria um transtorno psíquico compulsivo ou seria psicótica. A avaliação é da psiquiatra Magda Vaissman, professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Ela afirma que não é possível fazer um diagnóstico da idosa sem examiná-la, mas que o comportamento da idosa, que recolhia lixo das ruas e levava para casa, não é considerado normal.

- É comum os idosos não quererem se desfazer de objetos, porque cada uma tem uma lembrança de passagens da vida ou pessoas. Esse é um comportamento considerado normal - diz a psiquiatra.

- Agora o fato de levar lixo para casa denota um comportamento compulsivo. Muitas vezes, a pessoa não quer fazer aquilo, mas é compelida a isso. É preciso tratamento médico, com terapia e remédio para resolver - afirma.

Para ela, a família já deveria ter providenciado a ajuda, porque esse tipo de comportamento coloca em risco a saúde da idosa. O advogado contratado pela família, Alexandre Janini, afirma que os familiares pedirão um laudo médico para entender o comportamento de Violeta. Segundo Janini, ela é uma pessoa de posses.

- Ela mora com o filho, tem uma renda mensal. Mesmo assim, ela juntava lixo reciclável para revender e melhorar a renda. Não precisava disso. Os filhos pediam para ela parar, mas não conseguiam evitar - afirma Janini.

Para ele, apenas um laudo médico poderá dizer se Violeta é doente ou se o comportamento dela é apenas 'diferente'.

- Pode ser uma diferença cultural. Ela é estrangeira-alega o advogado.

O advogado negou que a família tenha abandonado a idosa. Ele disse que vai tomar medidas judiciais para se proteger de uma acusação de abandono.

Janini afirma ainda que vai entrar com medida cautelar para evitar que a Prefeitura continue a retirar os objetos da casa. Segundo o advogado, a casa era usada apenas como depósito, porque a idosa morava com os filhos. Os vizinhos, porém, garantem que ela morava sozinha no local e dormia em um carro, que ficava na garagem.

- Os objetos serão retirados de lá e levados para um galpão que ela possui em Santos. A família pretende colaborar com a Prefeitura, permitindo uma vistoria no local para provar nada lá dentro oferece risco à saúde da população. O mau cheiro vai ficar porque está impregnado no ambiente - diz.

De acordo com Janini, o mau cheiro era provocado por papelões sujos, que já foram retirados pela Prefeitura. Ele também afirma que os objetos que poderiam servir como ninho de roedores foram removidos.

- Muita coisa que foi retirada também já está à disposição da família, que poderá resgatá-las. Foi uma ação arbitrária e sensacionalista por parte da polícia - defende o advogado, que também pretende entrar com uma ação contra a delegada Maria Aparecida Corsato, que determinou o arrombamento e limpeza do local, quando estava à procura da idosa.

Cerca de 70 toneladas de lixo já foram retiradas da casa pela subprefeitura, que estima haver mais 170 toneladas de entulho no local.

- Pode ter havido um excesso mesmo por parte dela (Violeta), que será analisado por um especialista - admite.

Os vizinhos chamaram a polícia porque não viram Violeta por alguns dias. Havia a suspeita que ela estivesse morta dentro da casa, o que determinou a ação policial. Violeta alega que havia ido passar uns dias no litoral.

A polícia foi bastante rigorosa com a idosa. Ela foi indiciada até por porte de explosivos.

Link Original: http://oglobo.globo.com/online/sp/plantao/2006/07/11/284828782.asp

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12 de julho de 2006