• Edição 043
  • 6 de julho de 2006

Saúde e Prevenção

Ameaça à saúde e à beleza

Mariana Granja

As varizes, tortuosas e alongadas, não são um obstáculo apenas à beleza, mas significam um perigo à saúde de quem as possui. Procurar um médico e tratar essas veias é essencial, assim como tomar as devidas precauções evitando o aparecimento delas.

Segundo Mario Bruno Lobo Neves, professor adjunto do Departamento de Clínica Médica, do Serviço de Angiologia do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (HUCFF) e professor da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), o surgimento das varizes pode acontecer por uma série de fatores, podendo resumi-los em dois. “Um dos fatores é a fragilidade da parede da veia, e assim a pressão do sangue, que seria uma pressão normal para qualquer veia, naquela torna-se a pressão suficiente para dilatá-la. Essa parede frágil pode ser herdada da mãe ou do pai. O que se diz é que são “varizes hereditárias”, pois as pessoas acreditam que herdaram as varizes, mas na verdade as pessoas herdam um defeito de formação da parede das veias. É o mesmo caso de quem tem pé chato, hemorróidas, hérnia, tudo isso demonstrando fragilidade do tecido conjuntivo, que é o principal elemento de resistência da parede da veia. Essas são as varizes primárias”, explica.

Já o outro fator responsável pelo surgimento dessas veias é alguma doença que faz com que a pressão sanguínea aumente dentro dela. A parede da veia nesse caso é normal, mas está sendo submetida a uma pressão muito mais alta, então dilata, entorta e com o tempo se alonga um pouco. “Se nós tivermos uma trombose venosa, ou seja, o entupimento de uma veia, o sangue não consegue passar por ali e começa a passar por outros caminhos venosos e vai dilatando esses caminhos, especialmente na superfície da pele, na perna. Então a gente começa a vê-las altas, depois dilatadas, depois tortuosas”, fala o médico.

Há também alguns medicamentos que favorecem a dilatação e a fragilidade. “O anticoncepcional é um deles, mas outros fatores não medicamentosos também podem fazer isso. Por exemplo, durante o período gestacional os hormônios femininos estrogênio e progesterona provocam essa maior dilatação das veias, e por isso na gravidez aparecem varizes. As pessoas muito freqüentemente pensam que é o volume do neném dentro da barriga da mãe que faz um peso grande e comprime as veias, dilatando. Isso só acontece no final da gestação, mas as varizes começam a aparecer no primeiro trimestre, quando não há peso e volume nenhum, sendo conseqüências de uma alteração hormonal. No segundo trimestre de gravidez ocorre um aumento do número de varizes porque o útero recebe muito mais sangue, e depois manda esse sangue para o território venoso, formando como se fosse um “engarrafamento”, uma estase, aumentando a pressão”, esclarece o doutor Mário.

As mulheres representam a maioria dos que possuem varizes, o que não significa que não possa aparecer em homens e em crianças. “Em homens não é muito comum, e crianças podem ter varizes excepcionalmente, mas tem que ser bem investigado porque elas podem ter outras causas, como por exemplo, existir uma deformidade congênita, uma alteração do desenvolvimento normal dessas veias, ou haver uma comunicação direta entre artérias e veias, o que não deveria acontecer, pois faz com que o sangue da artéria, que tem muito mais pressão, entre e dilate essas veias. Ou a criança pode ter tido um traumatismo. Portanto, toda vez que aparecem varizes em crianças isso deve ser bem investigado porque pode ter causas mais importantes e sérias”, alerta.

O diagnóstico da doença é feito, muitas vezes pelo próprio paciente, antes de sua ida ao médico. “O paciente já chega falando ‘Olha eu tenho isto, tenho varizes, mas quero tratá-las’. Ele sabe que tem, mas cabe ao médico ver se são do tipo primário ou secundário, se a doença da pessoa é a própria veia que é frágil, ou se tem outra doença por trás que faz essa veia ficar assim. Depois de diagnosticar a etiologia (a causa dessas varizes), o médico inicia o tratamento”, fala o doutor Mário.

– Se a variz for primária e de calibre pequeno utiliza-se o que as pessoas falam popularmente de esclerosante, que é um processo chamado de escleroterapia. Pode ser usado com vários métodos: químicos, físicos, e mais modernamente está se usando o laser. O laser ainda é uma interrogação nessas veias muito pequenas, especialmente em pessoas mais bronzeadas do Rio de Janeiro, pois pode manchar um pouco a pele e deixar uma marca branca, já que às vezes lesa a melanina. Mas isso em um tempo mais ou menos curto será resolvido e o laser vai começar a dar um resultado melhor, já que os aparelhos hoje possuem um sistema de resfriamento de pele que diminui muito a dor que ocorria e as manchas não são mais frequentes. As coisas vão sendo aprimoradas, mas ainda prefiro fazer a escleroterapia química, que são as famosas injeções. – explica – Se as veias forem maiores o tratamento já é cirúrgico, havendo até a retirada da safena que é uma veia muito importante da perna, mas que se estiver doente causa mais doença do que ajuda a perna do paciente – esclarece o doutor.

Embora ter veias à mostra possa significar a existência de varizes, nem sempre é isso que ocorre. Muitas pessoas de pele clara têm veias que ficam muito visíveis. “As pessoas falam ‘ai, eu detesto essa veia azul’, e recordamos da época dos senhores de terra, em que os camponeses trabalhavam no campo, pegavam muito sol e por conta disso eram bronzeados e não apareciam as veias. Já os senhores das fazendas, os nobres, não iam pra terra e não pegavam sol, e tinham a pele muito mais clara, e conseqüentemente viam as veias. Na verdade o que se via era o sangue dentro das veias, porque o sangue venoso é um pouco menos oxigenado, então ele tem uma cor azul. É por isso que se dizia que os nobres tinham sangue azul, porque se via por transparência da pele o sangue azulado das veias”, fala.

Mas caso haja a existência de varizes e não esteja sendo feito o tratamento correto, a tendência é que elas aumentem de tamanho e de número. “Isso pode proporcionar dor, cansaço, e a pessoa pode eventualmente esbarrar em alguma coisa e romper uma veia que esteja muito dilatada na superfície cutânea. Isso causa um transtorno grande, porque sangra bastante e as pessoas quando têm essa ruptura de veia não fazem o que deve fazer: ficar quietas com a perna para cima. Sempre ficam andando de um lado para o outro, feito baratas tontas, chamando e gritando por alguém que as socorra, o que faz sangrar mais”, explica o doutor Mario.

É possível se prevenir das varizes, é isso deve ser feito principalmente se o paciente já possui na família pessoas com a tendência de desenvolvê-las. “A prevenção é feita utilizando roupas e sapatos adequados, que não sejam muito justos, além de tomar cuidado com atividades físicas de peso e impacto. Alimentação também pode ajudar, já que alimentos que contém vitamina C são indicados por servir como um co-fator para a construção da fibra colágeno fortificando a parede da veia. Assim, pode-se perceber que qualquer um de nós pode fazer uma serie de coisas para evitar o surgimento de varizes”, finaliza o médico.