• Edição 043
  • 6 de julho de 2006

Faces e Interfaces

A vitória da tecnologia

Mariana Elia

A tecnologia avança em todos os campos de atuação do homem. Tanques de provas hidrodinâmicas, túneis de vento, dri-FIT, policarbonato hidrodinamicamente otimizado... Não se trata de estudos de engenharia ou física, estessão apenas alguns exemplos dos diversos mecanismos desenvolvidos para produção de materiais esportivos. São muitas as justificativas para a necessidade de estudos na área, como a regulagem térmica, a diminuição de resistência do ar e da água, entre outros. Esses materiais utilizados na fabricação em tênis, uniformes e acessórios realmente ajudam no desempenho do atleta? Existe pressão dos patrocinadores para incentivar o aumento de vendas? O Olhar Vital procurou os professores da Escola de Educação Física e Desportos, Ana Maria dos Anjos e Ney Wilson para comentar sobre o assunto.

 

 

 

Ana Maria Fontoura dos Anjos

Chefe do Departamento de lutas da Escola de Educação Física e Desportos, professora na especialidade de esgrima

“Eu acredito que sim, que o desenvolvimento do material só vem a facilitar a performance do atleta. Porque o atleta chega a um certo nível, que não tem mais como melhorar o treinamento corporal, recorrendo ao aprimoramento do aparato ao seu redor. Seja o material que o atleta vai utilizar, seja onde ele será inserido, tudo que envolve o esporte pode ser alterado. Todos têm procurado melhorar nesse sentido, a fim de atingir novos recordes e promover um espetáculo mais agradável.

Na esgrima podemos verificar esse investimento. A pista, o material das vestimentas, a visualização, por exemplo, em muito foram modificados. Outro caso é a natação, na qual há investimento não só nos uniformes, mas no meio aquático, com tecnologias que diminuem as ondulações da água.

A preocupação também está na questão da segurança. Na esgrima, antes não havia a máscara, quando esta foi incorporada, o esporte deu um salto tremendo, pois os golpes puderam ser mais agressivos, mais certeiros. O tipo de jogo mudou, passou a ser mais ofensivo.

E, é claro, a busca dos milésimos de segundo do atleta de alto nível. Com os limites de biomecânica e fisiologia - tudo já foi esmiuçado - os pesquisadores procuram a melhoria do entorno. Por exemplo, antes as lâminas das espadas quebravam muito facilmente, porém hoje elas são muito resistentes e flexíveis (teoricamente inquebráveis). Isso faz com que o atleta arrisque mais, porque ele fará tudo com segurança, sem preocupação com possíveis ferimentos.

O material é desenvolvido para o tipo de esporte e não para o esportista. É uma questão de preferência se este vai utilizá-lo ou conseqüência de pressão por parte dos patrocinadores.  Sobre isso, no entanto, eu não tenho muito conhecimento, até porque a esgrima está em uma situação mais particular, onde cada atleta corre atrás de suas necessidades.

Acredito que o esporte sempre pode melhorar. Na esgrima, seria interessante desenvolver um material mais forte e adequado ao nosso clima. Utilizamos uma roupa muito pesada e quente por conta da segurança.

Se o ser humano tem um limite na sua extensão física e performance, precisamos aprimorar o material esportivo. Esse desenvolvimento promove, portanto, melhor espetáculo, mais segurança e a possibilidade de ir além, ultrapassar limites”.

 

Ney Wilson Pereira da Silva

Professor de judô da Escola de Educação Física e Desportos e responsável pela formação da seleção brasileira de judô

“Existem casos em que é essencial o investimento na melhoria de materiais, como o tênis com sua raquete e a vara com o salto que utiliza tal instrumento. No caso do judô, não existem muitas variáveis, apenas o quimono e o tatame, que inclusive é, tecnologicamente, bastante fraco no Brasil.

O tatame influencia principalmente os treinamentos. É importante que ele tenha boa absorção de energia, já que o judô é um esporte de impacto. Boa qualidade dos tatames, considerando também sua textura, diminui o risco de lesões nos esportistas. A utilização de placares eletrônicos também é favorável no sentido de familiarização pelos atletas brasileiros, pois é a marcação mais comum em competições no exterior. Esse aspecto não tem relação com o desempenho físico, mas auxilia na atuação do atleta.

Os quimonos também não alteram significativamente sua performance, os tecidos podem apenas aumentar a transpiração. Em relação aos esportes em geral, acredito que os materiais e uniformes tenham importância significativa no desempenho do esportista. A tecnologia empregada nos calçados, por exemplo, é fundamental para evitar lesões e diminuir o cansaço durante a competição. Da mesma maneira, os uniformes para nadadores, que auxiliam o deslizamento na água, a quebra da resistência no meio são indispensáveis hoje em dia. Esses materiais, portanto, auxiliam na segurança do esportista e diminuem o excesso de trabalho do mesmo.

Não podemos considerar desprezível a melhora de desempenho, porque cada detalhe faz diferença. Um segundo mais rápido ou um centímetro mais alto significa um recorde atingido, uma competição ganha.

No judô, os materiais são utilizados por preferência da equipe, não existe uma relação com empresas ou patrocinadores impositoras de certo tipo de material. Não posso falar sobre outras modalidades esportivas por falta de conhecimento específico, mas no esporte que pratico, as marcas procuram o atleta simplesmente por intenção de colocá-lo em campanhas publicitárias."

Anteriores