• Edição 042
  • 29 de junho de 2006

Saúde em Foco

Células e tecidos humanos não substituem animais em experimentos, diz pesquisador da UFRJ

Rio - O vereador Cláudio Cavalcanti, autor do projeto de lei contra o uso de animais em experimentos científicos, defende que as pesquisas devem ser realizadas com células e tecidos de seres humanos. Mas o diretor do Instituto de Bioquímica Médica da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Franklin Davis Roumjanek, garante que a utilização de animais ainda é necessária em todo o mundo, apesar do avanço da ciência que possibilita a utilização e reprodução de células em laboratório e a cultura de tecidos.

"Não é verdade que existem métodos hoje que eliminem o uso de animais", afirma o pesquisador, que é consultor da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC). Para ele, os argumentos em defesa dos animais são mais de ordem emocional do que baseados em fatos.

Roumjanek admite que, em fases iniciais, é possível testar substâncias em células. Mas explica que estas experiências oferecem apenas informações incompletas, que não permitem passar diretamente para a experimentação em seres humanos. "A gente sabe o efeito em células isoladas, mas para se usar em humanos, é preciso conhecer o efeito no organismo, com a presença de todos os órgãos e a interação entre eles. Você não pode pular etapas".

O pesquisador afirma que os testes em células poderiam, de alguma forma, ser realizados em lotes de vacinas. Mas pondera que casos graves de febre não atingiram a população graças à aplicação em animais.

De acordo com Roumjanek, métodos alternativos que poupam animais já são utilizados no Brasil, mas têm limitações. Um exemplo é uma pesquisa em andamento sobre o efeito de uma droga sobre células tumorais, na busca de tratamento para o câncer de pulmão. Estão sendo empregadas as técnicas de cultura de células, mas posteriormente será preciso testar as substâncias em organismos mais complexos.

Ele destaca que os pesquisadores brasileiros não estão à margem da informação, do conhecimento científico internacional, pois realizam intercâmbios e sempre trocam informações. "Tudo o que é feito fora do país é feito aqui também. Nós temos as técnicas de ponta". As diferenças apontadas pelo pesquisador são o grande rigor no controle das pesquisas e o nível de financiamento, que no Brasil é bem inferior, reduzindo o grau de liberdade dos pesquisadores e exigindo que sejam econômicos.


Agência Brasil – DF
27/06/2006
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