• Edição 042
  • 29 de junho de 2006

Ciência e Vida

Vitiligo: a pior marca é o preconceito

Mariana Elia

Sem uma causa específica e, por conta disso, imprevisível, o vitiligo se caracteriza como uma doença ainda obscura na literatura científica. Também chamado de leucodermia, hipomelanose e amelanose, o vitiligo se define pela despigmentação da pele, com formação de manchas acrômicas (incolores), principalmente punhos, lábios, genitálias, virilhas, dedos e cotovelos. Pode também ocorrer despigmentação dos pêlos e não tem relação de incidência com idade ou etnia.

A pele é o órgão mais extenso do corpo humano e corresponde a 16% do peso corporal. Formada por três camadas, ela tem diferentes funções, tais como a regulação térmica, a proteção contra agentes externos é receptor sensorial. Os melanócitos, localizados na epiderme, são as células produtoras de melanina. Esta, por sua vez, é responsável pela pigmentação da pele, protegendo-a da radiação solar. A pessoa com vitiligo torna-se portanto mais suscetível aos prejuízos solares e por isso deve proteger-se constantemente.

O mais importante, no entanto, para Absalom Lima Filgueira, chefe do Serviço de Dermatologia do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (HUCFF), é o distúrbio auto-imune. “O vitiligo é uma doença que promove a destruição de células fundamentais para o bom funcionamento do corpo. Ele demonstra que o sistema de defesa não está funcionando de maneira adequada”, explica.

Dessa forma, o vitiligo está associado a outras doenças auto-imunes, como diabetes, distúrbios da tireóide e esclerose. Existem outras possíveis causas, como a formação de metabólitos intermediários, formados durante a síntese da melanina, que destroem as células melanocíticas; e o desenvolvimento de mediador neuroquímico inibidor da produção de melanina. O professor Absalom esclarece que essas causas foram descartadas com o avanço do transplante de medula óssea, que provou o desenvolvimento de doenças contra hospedeiro.

Não há sintoma que indique o início da doença, mas o incômodo estético é um grande sofrimento, pois é comum as manchas possuírem bordas hiperpigmentadas, aumentando o contraste entre as regiões afetadas e sadias. Muitas pessoas sofrem com o preconceito, como a recusa de empregos, comentários e, quando crianças, brincadeiras de colegas na escola.

O avanço da doença é imprevisível, bem como a repigmentação espontânea. O professor Absalom diz que o desencadeamento pode derivar de uma série de situações, inclusive o estresse emocional e químico (uso excessivo ou inadequado de determinadas drogas), mas a herança genética está presente em 30% dos casos. Ainda assim, existem pacientes em que não se verificou nenhuma causa aparente, não sendo então possível prevenir a doença.

Quando as manchas ocupam mais da metade do corpo, muitos dermatologistas recomendam a despigmentação das áreas não atingidas. Por outro lado, se as manchas estão isoladas entre si, o professor Absalom indica a fototerapia como único método científico com bom resultado. A fototerapia utiliza a radiação Ultravioleta, aliado a outros medicamentos fotosensibilizantes, com o objetivo de regular a imunidade.

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