• Edição 042
  • 29 de junho de 2006

Por uma boa causa

Anabolizantes: uma bomba para a saúde

Mariana Elia

Para o encerramento da série de matérias sobre lesões causadas por exercício físico, trataremos, nessa semana, da relação entre essa prática e o uso de anabolizantes. Muitos usuários de academias, jovens em sua maioria, utilizam os anabolizantes como forma de aceleração do crescimento muscular. A utilização desses hormônios, entretanto, pode predispor os tendões a lesão, já que desenvolvem o fortalecimento muscular sem considerar a capacidade de sustentação desses.

Segundo a professora Flávia Lúcia Conceição, do Serviço de Endocrinologia do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (HUCFF), os anabolizantes podem ser variados hormônios que possibilitam o aumento da massa muscular. “Eles atuam de formas diferentes. A testosterona, que é a mais comum, aumenta a quantidade de fibras, mas o hormônio do crescimento produz um aumento de água dentro das células”, explica a professora.

Dessa forma, o hormônio do crescimento não auxilia no fortalecimento muscular e gera alterações significativas nas articulações e extremidades ósseas. “Há acúmulo de líquido, formando um quadro semelhante ao de artrose. E pode incitar o crescimento excessivo dos ossos de extremidade. Já o uso moderado e orientado de hormônio testosterona, por outro lado, aumenta apenas a massa muscular, como a força e a resistência física”.

Os anabolizantes tem efeito de acordo com a prática do exercício. Se houver um empenho maior nos membros inferiores, os hormônios atuarão nessa área. Registra-se, por exemplo, a alta incidência de lesões no músculo peitoral maior em atletas levantadores de peso, por conta da fragilidade articular frente ao súbito crescimento do músculo.

O principal tratamento é a diminuição do uso dos hormônios e dependendo do grau da lesão, é necessária a interrupção seguida da reparação inflamatória. O fortalecimento muscular natural também é importante, mas deve ser feito de forma lenta. A professora Flávia alerta, no entanto, que os hormônios anabolizantes são destinados às pessoas com deficiência hormonal e grande dificuldade em ganhar massa muscular, não devendo ser utilizado indiscriminadamente.

Os anabolizantes podem causar distúrbios metabólicos, além de atrofia das mamas e antecipação da menopausa n caso de uso por mulheres e a andropausa, nos homens. O risco de desenvolvimento de câncer de fígado também aumenta com o uso de hormônios. O professor José Carlos Quaresma, do Serviço de Medicina Física do HUCFF, explica que a arritmia cardíaca é causada pelo aumento do ventrículo esquerdo, que desarticula o circuito de reentrada elétrica. “O exercício físico passa a funcionar como gatilho para o desencadeamento de extra-sístoles. O hormônio erroneamente dosado desarticula o crescimento das fibras, não dando segmento a circulação elétrica normal”, conclui.