• Edição 038
  • 1° de junho de 2006

Faces e Interfaces

Os vértices do campus descontínuo

Taisa Gamboa e Mariana Elia

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A criação do Campus do Fundão teve como objetivo aglutinar todos os cursos oferecidos pela universidade apenas em um lugar. Entretanto, no decorrer da história, várias unidades permaneceram onde estavam, não havendo, portanto, uma integração capaz de unificar toda a estrutura de que a UFRJ dispunha.

A realidade atual é oposta. Um campus descontínuo, que dispõe suas diversas unidades entre os campi do Fundão e da Praia Vermelha e outras unidades distribuídas pela cidade do Rio. Essa descontinuidade amplia o isolamento, a dificuldade de integração e o estabelecimento de ações conjuntas.

De acordo com a proposta que vem sendo discutida no novo PDI (Plano Qüinqüenal de Desenvolvimento Institucional), a questão do campus descontínuo se baseia na reorganização das unidades de tal forma que, aqueles que apresentam semelhanças didáticas, deverão se localizar fisicamente próximos. Assim sendo, os estudantes terão uma excelente oportunidade para dividirem um espaço comum e os docentes poderão trocar experiências.

A idéia principal é alocar algumas atividades na Praia Vermelha, mantendo a maioria delas no Fundão. Caso seja aceito como diretriz na versão final do PDI, essa proposta pode provocar o deslocamento de algumas unidades, a possível resistência de setores internos e controvérsias entre os centros.

O Instituto de Biologia (IB), por exemplo, originalmente pertencente ao campo das Ciências Naturais, hoje, está localizado no Centro de Ciências da Saúde (CCS). Para debater sobre essa questão, o Olhar Vital convidou a diretora do Instituto de Biologia, Maria Fernanda S. Quintela da C. Nunes e a decana do CCMN, Ângela Rocha.

Maria Fernanda S. Quintela da C. Nunes
Diretora do Instituto de Biologia

imagem faces e interfaces“A discussão sobre o campus descontínuo é uma questão histórica, que envolve o processo de construção da UFRJ. Em função de sua importância para o melhor funcionamento de todos os centros e suas unidades, bem como a inter-relação entre eles, é fundamental que este debate seja amplamente discutido pela comunidade acadêmica. Sua complexidade é um fator que facilita e aumenta a fragmentação de nossa universidade.

O Instituto de Biologia (IB), por exemplo, foi criado em 1968, a partir do Departamento de História Natural da Faculdade Nacional de Filosofia. Na época em que o instituto foi transferido para o Campus do Fundão, na Cidade Universitária, ele fazia parte da estrutura do Centro de Ciências Matemáticas e da Natureza (CCMN).

Como não havia espaço disponível para a sua instalação naquele centro, o instituto acabou sendo realocado no Bloco A do prédio Centro de Ciências da Saúde e, posteriormente, foi inserido como uma das unidades do CCS.

Atualmente o Instituto de Biologia está estruturado nos departamentos de Biologia Marinha, Botânica, Ecologia, Genética, e Zoologia. Suas linhas de pesquisa e cursos são, em sua maioria, da área de Ciências da Vida e não se restringem a saúde propriamente dita.

A relação do IB com os outros centros da UFRJ se dá de forma ampla. Várias unidades tanto do CCMN, como do CCS e do CT, além do Museu Nacional, da Faculdade de Educação e do CAP são parceiros em nossos projetos.

É difícil determinar quais seriam os benefícios e malefícios que poderiam advir de uma mudança de Centro do Instituto de Biologia. Tanto o CCMN, como o CCS são centros de excelência que podem contribuir muito para os trabalhos desenvolvidos pelo IB. Além disso, essa questão nunca esteve em pauta de discussão na nossa Unidade.”

Professora Ângela Rocha
Decana do Centro de Ciências Matemáticas e da Natureza

imagem faces e interfaces“O Instituto de Biologia era, inicialmente, do CCMN. Não sei ao certo a razão da transferência, mas há o desejo de alguns departamentos do Instituto de vir para cá. Porque, veja bem, é Centro de Ciências Matemáticas e da Natureza, e para natureza ser completa precisa das ciências biológicas.

No entanto, parte da Biologia, como a genética, é muito ligada ao Hospital Universitário. Para que essa possibilidade seja real, precisava haver uma reestruturação. E no presente momento, se quiséssemos efetivar essa troca, não poderia ser. A gente não tem espaço nem para nossas necessidades. É apenas um desejo de nossa comunidade e, acredito, de parte da biologia, de voltar a pertencer ao CCMN.

Acredito que a iniciativa tem que partir de lá, mas, no presente momento é apenas uma brincadeira, uma ficção e não uma possibilidade real. A vantagem é agrupar no mesmo local geográfico pessoas que tem tudo para interagir e trabalhar em conjunto. Porque a Biologia não tem tanto a ver com Saúde, mas com Natureza.

Grande parte do CCMN acha que seria muito vantajoso integrar não apenas a Biologia, como também, o Museu Nacional. E como agora tem a discussão do PDI, essas discussões voltaram a tona. Como a construção de um pólo de Química, que agregasse todas as unidades que se utilizam dela, mas mantendo suas identidades.

Em relação à desvantagem, tem que se considerar que não é uma mudança simples, é complicado, grande, profundo, muda a vida das pessoas. Onde? Teria de haver uma remodelação da estrutura da Cidade Universitária. Por isso também que essas discussões vieram junto ao PDI. Para o CCMN não haveria desvantagens, para a Biologia eu não posso dizer. É uma discussão que surge mais em termos filosóficos, acadêmicos do que em termos reais. Não existe essa discussão hoje em dia na universidade, nem no Centro nem com o CCS. Justamente por causa do PDI a gente vem discutindo a universidade que queremos, então esta seriam as ciências da natureza no mesmo espaço geográfico, e aí, nem digo Centro necessariamente.

O que importa é a gente vencer essa cultura da fragmentação, do curso que é meu, do aluno que é meu; para passar a pensar em cursos que são da UFRJ, em alunos que são da UFRJ. Do jeito que está, não fica inviável, mas dificulta muito.”